domingo, 25 de abril de 2010

LOUCO DE LUZ


Que o sol tirasse sal
da face doce
E o céu em semi-círculos
se mostrasse
Que a noite de seu ser
se repetisse
E os astros de seu sonho
orientassem.
Um dia a grande graça
aparecesse
Da pedra, um fino fio
lhe acontecesse
E o brilho breve
quase lhe cegasse.


Altair de Oliveira - In: O Lento Alento.

Ilustração: o trabalho "Pandeiro" da artista plástica e poeta Larissa Marques.

EU TE SEI

EU TE SEI


Ah! Meu amor, meu amor...

bem sei que prestas.

Pois sei que escavas em vida

espaço e pão.

Teu coração de albergue

escancarado

é sempre ponto de amparo,

ponte e chão.


Eu que bem sei das peias

que te esfolam.

E sei também das setas

que te espetam...

Sei que, apesar dos pesares,

existe a fresta

e, além de tudo, o motivo para a festa.



Altair de Oliveira – In: Curtaversagem ou Vice Verso.


Ilustração: "Esquecimento", trabalho do pintor francês Jean Delville


EXTRAVIO



Era uma vez uma via
que fez-se em mil maravilhas
num dia lindo de vez...
Talvez, pra minha alegria
- coisa que nunca se viu! –
na via que vi havia
o céu que eu tanto queria
com fogo de cio na tez.


E eu vi que a via me via
vestida em mil amavios
visando a minha avidez...
E quando investi meus navios
a via ainda me riu
e delindo, linda, desfez-se.



Altair de Oliveira, In: O Embebedário Diverso

Ilustração: foto de trabalho da pintora Beatriz Milhazes.