
Ocorre a fresta da festa
e a hipótese que expanda-se
caso desfaçam-se empeços.
Porém existem ameaças
que a própria fenda se feche
que a festa finde ou se afaste.
Altair de Oliveira – In: O Embebedário Diverso
Nestes dias de sol alto demais
a tristeza viceja no meu rosto.
Sou sintomas de luz esburacada
olhos sujos de cenas que não gosto.
Há lembranças dum sonho de herói
que forçaram ir rasgando
aos poucos...
Assim mesmo disfarço que suporto
inventar de buscar a minha sorte
calo calos de mágoas que me mordem
respirando este tempo que me dói
pra fugir de ficar a fim da morte.
Altair de Oliveira – In: "O Embebedário Diverso".
Ilustração: detalhe de foto de Mauricio Simonetti.
Queres mesmo saber, vou persistir
Suportar tempestades, vou ficar...
Quando o sol me bater,
vou responder
Respirar todo ar que conquistar
Vou fazer meu calor me levantar
E seguir por aí e procurar
Cultivar o melhor que aparecer
Se doer, esperar a dor passar
Nunca mais desarmar o meu amor
Nem armar de morrer, nem me matar.
Altair de Oliveira – In: O Embebedário Diverso
Ilustração: foto da Aurora Boreal
Queremos do mesmo sonho
e não sabemos
buscar urgentes e unidos
o mesmo prêmio
Que ponha fim ao cansaço
que escadeira
e esclareça o real,
tão obsceno!!!
O que castre o poder
daqueles que atrofiam
e que desintegre as idéias
que aprisionam
e que ponha à procura
os que esperam...
Mas que faça encontrar
os que procuram.
E que traga a colheita
aos que cultivam
para que tudo entre todos
se reparta
até que nas mesas fartas
falte a fome...
e a vontade de rir
assalte as caras.
Altair de Oliveira – In: “Curtaversagem ou Vice-versos”.
Ilustração: o mural "Guerra", de Cândido Portinari.
EU TE SEI
Ah! Meu amor, meu amor...
bem sei que prestas.
Pois sei que escavas em vida
espaço e pão.
Teu coração de albergue
escancarado
é sempre ponto de amparo,
ponte e chão.
Eu que bem sei das peias
que te esfolam.
E sei também das setas
que te espetam...
Sei que, apesar dos pesares,
existe a fresta
e, além de tudo, o motivo para a festa.